No passado dia 11 de Outubro o nosso grupo teve a honra de receber a Dra. Dulce Bouça, psiquitra na área dos distúrbios alimentares que nos falou mais concretamente sobre a anorexia.
Aqui está a entrevista:
- Quais as razões que determinam uma pessoa a ficar anoréctica? É patologia, culpa da educação, ou simplesmente um problema psicológico?
Em primeiro lugar, é necessário ter em conta que o psicológico não está separado do físico, "está no corpo todo". Há, por exemplo, neurotransmissores como o cortisol (produzido pelas supra-renais), que controla o nosso comportamento ( humor, tristeza, ansiedade, alegria, stress, afecto, emoção..etc.).
Uma doença implica uma desregulação irreversível. A anorexia nervosa é uma doença cujo fulcro é o medo de comer, não sendo por isso uma mania, uma coisa passageira ou uma "doença de maluqueira", é patológico.
A A.N.. normalmente começa com uma dieta e consequente perda de peso. Quanto maior a perda de peso, maior o tal desiquilíbrio irreversível e a desregulação total: física, química, metabólica e emocional.
Esta doença começa com um estímulo exterior: "Estás a ficar mais gorda(o)", que é recebido de diferentes maneiras, consoante a sultura em que se está inserido e a personalidade de cada um. Normalmente os anorécticos nervosos são pessoas com baixa auto-estima, altamente perfeccionistas e obcessivas, inseguras e com uma necessidade de auto-controlo.
A anorexia é influenciada por factores culturais, familiares, genéticos e pessoais.
- Quando se descobre a doença quais são as curas possíveis? O que se faz num primeiro momento?
O principal problema é o facto de se descobrir a doença numa fase tardia (um ano ou mais), em que o doente já perdeu muito peso e está sob o stress do auto-controlo.
A primeira abordagem deve ser o diálogo com a pessoa, nunca falando directamentente no seu aspecto físico mas abordando o seu estado psicológico: "Parece que estás diferente, está tudo bem contigo?", é a melhor maneira de interceptar as pessoas, pois elas estão perfeitamente cientes da sua doença.
Este problema deve ser tratado por um psiquiatra e não por um nutricionista.
- Quais os tratamentos possiveis? É normal o internamento?
Não, normalmente esta doença trata-se através de consultas que assegurem um acompanhamento total ao paciente, e que passem por varios aspectos: um plano alimentar saudável que ensine a pessoa a ser magra e a realimentar-se, acompanhemento psicológico e cuidados de ordem física.
Todo este tratamento deve ser feito por um médico psiquiatra, pois a doença afecta simultaneamente as partes física e psicológica. A nível físico, os órgãos que sofrem lesões são, principalmente: cérebro, estômago e intestinos.
- Quais são as suas maiores dificuldades durante o tratamento?
A maior dificuldade é conseguir ganhar a confiança dos doentes. As primeiras cnsultas são o mais difícil pois é necessário que o paciente acredite que o médico não o vai engordar. É necessário estabeleceruma espécie de "contracto de confiança terapêutico" com os doentes, em que se negoceia medos por comida. Para tal é necessário que o médico seja experiente para que se possa estabelecer um compromisso. As consultas devem ser semanais e as reuniões com a família do paciente são essenciais; é muito importante que a família saiba o que o doente deve comer e como o fará.
É necessário tambem que este processo seja feito por um médico psiquiatra e não por um dietista ou nutricionista pois apenas o médico psiquiatra compreende a mente dos doentes.
- Morrem muitas pessoas com esta doença? Quais as causas da morte?
A percentagem de morte está entre os 5% e os 10% a nível mundial. Em Portugal as estatísticas são as mesmas. Estamos a par do resto do mundo no tratamento a este tipo de doenças. As causas da morte são a hipoglicémia (baixo valor de açúcar no sangue) ou a paragem cardíaca.
- Quanto tempo costuma demorar a cura?
O tempo de cura depende do tempo a que se tem a doença. Quando se tem a doença há 3 meses por exemplo, a cura demora 1 ano, aproximadamente. Quando se tem a cura há mais tempo (1 ano ou mais), a cura demora, em média, 2 anos.
Sim, quando não existe um tratamento completo. Quando o tratamento é feito a todos os níveis não há recaídas, normalmente. Se e tratamento for levado até ao fim, perde-se totalmente o medo de comer.
- Existem muitos rapazes com a doença? Qual o sexo cujo tratamento é mais fácil?
anorexia nervosa tambem se manifesta no sexo masculino, se bem que com menos frequência do que no sexo feminino. A proporção é de 9 raparigas para 1 rapaz.
Os rapazes com esta doença tornam-se mais agressivos e mais obcecados com o exercício físico
- Esta doença tem alguma relação com a obesidade ou tem um carácter completamente diferente?
Anorexia e obesidade não têm nenhuma relação, e as personalidades dos pacientes de cada uma destas doenças são compeltamente diferentes.
Um obeso não consegue iniciar uma dieta e possui um carácter impulsivo, enquanto que um anoréctico tem uma grande capacidade de auto-controlo e é altamente perfeccionista.
No entamtoa organização mental é semelhante; no nosso corpo possuímos um neurotransmisso, a Serotonina, que controla o nosso estado de humor, e a seu desregulação faz-nos comer demais ou de menos.
Existe também Leptina, regulada pelo cérebro, que pode causar resistência à fome, quando se encontra em níveis muito baixos, ou conduzir à grande vontade de comer e consequente obesidade, quando se encontra em níveis elevados.
Agradecemos à Dra. Bulce por nos ter ajudado a perceber o que é realmente a anorexia.
Se tiverem alguma dúvida nao hesitem em perguntar.
Obrigado.
Grupo "À Mesa"